Campinas, última cidade do Brasil a abolir a escravidão.

A cidade mais importante e das mais populosas do estado até os anos de 1880 tinha também mais de 50% da sua população negra. Quase cem anos depois, na mesma cidade, foi criado o primeiro sindicato de domésticas do país. A Campinas dos barões de café é também a cidade de Laudelina de Campos. Muitos espaços conhecidos por aqui têm origem negra. Da Rua 13 de Maio – lugar de feira da população negra; ao Largo das Andorinhas – concentração dos capoeiras e a Rua da Abolição – que acolheu grande parte dos negros da cidade até as igrejas do Rosário e de São Benedito.

Hoje, 2024, os negros e negras de Campinas são os que mais sofrem na cidade. Morremos mais rápido; trabalhamos em piores condições; não temos acesso à saúde e não temos onde morar. Seu crescimento forçado expulsou a negritude para as periferias e apagou histórias e memórias. Conhecida no país por altos índices de sucesso, Campinas ergueu-se às custas dos descendentes de pessoas escravizadas. E apesar de metrópole, nela ainda não cabem todos. Seu território tão vasto e pouco conectado privilegia quem tem carro.

A cidade de uma das melhores universidades do país sempre foi muito pequena para muitos. Nessa terra de contradições, mais de 20 mil sem-teto decidem diariamente entre comer e morar. Mais de 2300 pessoas vivem nas ruas da 4ª cidade mais cara para se viver no Brasil. A violência do cotidiano massacra justamente quem fez e faz Campinas erguer-se diariamente. Deus, por que a vida é tão amarga na terra que é palco das plantações de café e de cana-de-açúcar? Seu solo é marcado por essas histórias, e embaixo dele ainda vivem nossas memórias. Por que então insistimos em você, Campinas? Por que somos teimosos e não desistimos?

Porque Campinas também é terra de coragem e ousadia. É lugar de maracatu; de jongo; de samba; de jovens e de gente que luta e sonha. Não desistimos porque nos temos! Mais uma vez os tambores tocam e o povo se reúne para fazer a roda da história se balançar. Calamos o cansaço e oferecemos um abraço quente.

Estamos construindo um novo capítulo dessa história, onde todas as crenças religiosas sejam respeitadas, onde seja declarada justa toda forma de amor, onde nenhuma mulher seja alvo de violência, onde a juventude negra não seja alvo do extermínio e onde TODOS TENHAM ONDE MORAR. Enquanto a terra não for livre, nós também não seremos. Temos a meta de deixar sem chão quem riu de nós, os sem-teto. Que a felicidade venha sobre nós, respeitando toda dor e consolando toda lágrima, porque para nós, felicidade de verdade só é possível se for para todos.

Sonhamos com a possibilidade de uma Campinas que tenha uma representante dos sem-teto! Uma representante que nunca esteve sozinha. E que só conquistou o que tem hoje porque estava sempre em luta coletiva.

Vamos juntos pelos sem tetos; pelas comunidades; pelas ocupações e pelas periferias!
‌Por uma Campinas viva, diversa e do povo!
Por justiça e pelo direito de viver e de sonhar!
Pelo fim da violência contra o povo negro!
Pela PERIFERIA NO PODER em Campinas!

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Thamires Ramos

pré-candidata a vereadora em Campinas, líder da luta por moradia digna, representando os sem teto e pautando negritude, feminismo, maternidade e direitos sociais.

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Salve, povo de luta!

Aqui é a Thamy do Mandela, pré-candidata a vereadora em Campinas!!

Sou uma mulher preta, de 32 anos, nascida e criada nas periferias de Campinas, mãe de um menino de 6 anos, de três cachorros e três gatos.

A luta pela qual sou conhecida começou em 2017, quando me tornei coordenadora da Ocupação Nelson Mandela, mas minha inserção na política vem desde a infância.

Aos 13 anos ingressei na Fundação Orsa e alguns anos depois entrei para a Banda Bate Lata, onde tive oportunidade de viajar e acessar realidades que nunca tinha sonhado antes. Meu olhar sobre as desigualdades de Campinas mudou e foi ali que comecei a reivindicar direitos e oportunidades para os jovens pretos e periféricos, como eu.

Como muitas meninas pretas e pobres, minha infância foi marcada pelo alto custo de vida de Campinas, hoje uma das 4 cidades mais caras para se viver no Brasil.

Como dependíamos de aluguel, minha família e eu vivemos por muitos anos a realidade de muitos campineiros: migrando de casa em casa, por diferentes bairros periféricos da cidade. Esta realidade só se transformou para nós quando, em 2016, conhecemos a ocupação Nelson Mandela, que estava se formando no Jardim Capivari.

Enquanto liderança de ocupação, enfrentei diferentes desafios na luta por moradia digna em Campinas: vivemos uma reintegração de posse violenta em 2017 e sobrevivemos pela solidariedade de outras ocupações de Campinas e região. Nos reorganizamos e ocupamos uma nova área, derrubamos diversas tentativas de reintegração de posse, sofremos preconceito e difamação, não pudemos acessar nosso direito à educação e à saúde por não termos comprovante de endereço, sofremos com os temporais de verão e com o frio do inverno.

Ao longo dessa trajetória compreendi a importância de nos organizarmos politicamente para transformar nossa realidade. Me organizei no movimento social, nas Brigadas Populares, onde evolui muito de forma coletiva.

Foi a partir dessa luta, coletiva e organizada, que conquistamos o tão sonhado Loteamento Nelson Mandela, que além de abrigar as famílias da nossa ocupação, vai receber mais 450 famílias que aguardam por moradia na lista da Cohab.

A decisão de sair como pré-candidata a vereadora em Campinas foi uma decisão coletiva, fruto do acúmulo da luta por moradia em Campinas e da Comunidade Nelson Mandela.

A Thamy do Mandela é uma, mas representa um coletivo, representa os sem teto, um povo que sofre e que não tem sua voz ouvida. Não queremos mais ser representados por quem não vive a realidade do povo periférico de Campinas!
Não queremos nada sobre nós, sem nós!

Minhas principais pautas são aquelas que carrego em meu corpo: a negritude, o feminismo, a maternidade e, claro, o direito à moradia digna. Estas são pautas amplas que carregam consigo a luta pelo direito à saúde, à educação, à mobilidade urbana e à segurança. Luto por uma Campinas em que o povo periférico esteja no centro das políticas públicas!

Venha construir essa pré-candidatura com a gente!
Por uma Revolução Solidária em Campinas!

Sou uma, mas não sou só!